Oposição
(in) Culta
Na passada madrugada
de 28 de Maio, saíram à rua dezenas de activistas a reivindicar um aumento do
investimento público na Cultura.
Mas não
estão sozinhos: ao que parece, a extrema-esquerda portuguesa está a exigir dois
mil milhões de euros para o sector cultural, ou seja, cerca do dobro do que à
partida será poupado com o corte do subsídio de férias e Natal dos funcionários
públicos em 2012.
Estas
exigências mostram uma clara falta de bom senso e incapacidade de se eleger
prioridades, já para não falar de princípios básicos de inteligência e
coerência.
Já começam a
disparar as boas velhas máximas de “se não és a favor dos subsídios, és contra
a Cultura, logo, és persona non grata”
(ou simplesmente um ignorante…).
Isto pode
ser observado segundo dois prismas: o moral e o prático.
A política,
ao contrário da ciência económica, não é “wertfrei”
(alemão para “livre de julgamentos morais”). Ela reflecte os nossos princípios
éticos, sendo por isso imperdoável que se descartem juízos morais aquando da
avaliação de ideias e medidas políticas em cima da mesa.
É importante
que nos lembremos de onde provém o dinheiro que pagaria este tipo de
maravilhosas propostas da “Esquerda caviar”. Como é óbvio, esse montante seria
amealhado através dos nossos impostos.
Para
atingirmos conclusões realistas, importará que partamos de premissas igualmente
realistas: como liberal, acredito que o acto de tributação deve ser visto como
algo reprovável por natureza. Na realidade, a única coisa que separa o Estado de
um carteirista, é a lei – no entanto essa lei não deixa de ser exercida sob uma
forma coerciva.
Quando tributamos
alguém, essa acção é inevitavelmente marcada pela sua dose absoluta de coerção.
Ou seja, estamos a tirar dinheiro a alguém, mesmo que essa pessoa não queira
ceder aquela quantia. Estamos a fazê-lo contra a vontade de um terceiro. Se ele
retaliar, será colocado atrás das grades, por ter tentado proteger aquilo que
era seu.
O imposto
como ferramenta do Estado pode até ser considerado por vezes como sendo um
“saque justificado”, por ser “infelizmente inevitável” - mas ainda assim não
deixa de ser um “saque” (na verdadeira definição da palavra).
Visto isto
de um modo menos ideológico e simplesmente prático, a proposta em causa é
simplesmente lunática, não mostrando sequer um mínimo de respeito pelo esforço que
os portugueses têm feito mês após mês. Não vejo o que possa haver de
“infelizmente inevitável” numa proposta destas, mesmo tendo em conta os fins a
que se dedica.
Em suma, uma
sugestão de medida que espelha na perfeição a falta de qualidade da política
portuguesa no que toca a estabelecer opções e prioridades para Portugal. É caso
para dizer: Viva o despesismo e a mentalidade da “ressaca”.