domingo, 24 de junho de 2012


Oposição (in) Culta



Na passada madrugada de 28 de Maio, saíram à rua dezenas de activistas a reivindicar um aumento do investimento público na Cultura. 

Mas não estão sozinhos: ao que parece, a extrema-esquerda portuguesa está a exigir dois mil milhões de euros para o sector cultural, ou seja, cerca do dobro do que à partida será poupado com o corte do subsídio de férias e Natal dos funcionários públicos em 2012.

Estas exigências mostram uma clara falta de bom senso e incapacidade de se eleger prioridades, já para não falar de princípios básicos de inteligência e coerência.

Já começam a disparar as boas velhas máximas de “se não és a favor dos subsídios, és contra a Cultura, logo, és persona non grata” (ou simplesmente um ignorante…).
Isto pode ser observado segundo dois prismas: o moral e o prático.

A política, ao contrário da ciência económica, não é “wertfrei” (alemão para “livre de julgamentos morais”). Ela reflecte os nossos princípios éticos, sendo por isso imperdoável que se descartem juízos morais aquando da avaliação de ideias e medidas políticas em cima da mesa.

É importante que nos lembremos de onde provém o dinheiro que pagaria este tipo de maravilhosas propostas da “Esquerda caviar”. Como é óbvio, esse montante seria amealhado através dos nossos impostos.

Para atingirmos conclusões realistas, importará que partamos de premissas igualmente realistas: como liberal, acredito que o acto de tributação deve ser visto como algo reprovável por natureza. Na realidade, a única coisa que separa o Estado de um carteirista, é a lei – no entanto essa lei não deixa de ser exercida sob uma forma coerciva. 

Quando tributamos alguém, essa acção é inevitavelmente marcada pela sua dose absoluta de coerção. Ou seja, estamos a tirar dinheiro a alguém, mesmo que essa pessoa não queira ceder aquela quantia. Estamos a fazê-lo contra a vontade de um terceiro. Se ele retaliar, será colocado atrás das grades, por ter tentado proteger aquilo que era seu. 

O imposto como ferramenta do Estado pode até ser considerado por vezes como sendo um “saque justificado”, por ser “infelizmente inevitável” - mas ainda assim não deixa de ser um “saque” (na verdadeira definição da palavra).

Visto isto de um modo menos ideológico e simplesmente prático, a proposta em causa é simplesmente lunática, não mostrando sequer um mínimo de respeito pelo esforço que os portugueses têm feito mês após mês. Não vejo o que possa haver de “infelizmente inevitável” numa proposta destas, mesmo tendo em conta os fins a que se dedica.

Em suma, uma sugestão de medida que espelha na perfeição a falta de qualidade da política portuguesa no que toca a estabelecer opções e prioridades para Portugal. É caso para dizer: Viva o despesismo e a mentalidade da “ressaca”.