quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Globalização Financeira


Um dos fenómenos notáveis da economia contemporânea é a ascensão e em flecha da finança internacional num contexto de globalização. A globalização financeira pode ser definida como um processo de interligação dos mercados de capitais aos níveis nacionais e internacionais, conduzindo ao aparecimento dum mercado unificado do dinheiro à escala planetária. A globalização financeira inscreve-se num processo histórico longo e complexo, conduzindo à mundialização da economia. As suas causas são múltiplas, de ordem política, demográfica e tecnológica. A globalização financeira deu origem a análises divergentes, mais ou menos optimistas quanto aos seus efeitos sobre o funcionamento da economia mundial. Há, no entanto, um consenso sobre a necessidade de uma reforma da arquitectura financeira internacional, a fim de adaptar esta à globalização dos mercados. Um "novo Bretton Woods" não será ele necessário neste início do século XXI?

As três dimensões da mundialização

Fenómeno complexo, a mundialização abrange uma grande diversidade de processos. Corresponde, em primeiro lugar, à abertura das economias nacionais às transacções internacionais e ao desenvolvimento das trocas de bens e serviços (dimensão internacional). Ela corresponde, a um segundo nível, à mobilidade internacional dos factores de produção, e mais particularmente à dos capitais, é a esta última mobilidade que se chama habitualmente globalização financeira. O vector mais importante deste movimento é constituído pelos movimentos internacionais de capitais, e mais particularmente pelos investimentos directos no estrangeiro (IDE), realizados pelas empresas multinacionais (dimensão multi-nacional). Por último, a mundialização é um processo de interpenetração crescente das economias nacionais, tendendo, pois, a reduzir progressivamente o papel das fronteiras, a enfraquecer as regulações nacionais e a des-territorializar as actividades económicas: mais do que de uma internacionalização da economia, trata-se de uma mundialização dos processos de produção e dos mercados, com mercados integrados e empresas que se tornam "actores globais" cujas decisões e comportamentos parecem escapar a qualquer consideração nacional e parecem ditar a sua lei aos responsáveis políticos nacionais (dimensão global). É no domínio da finança que a globalização dos mercados é mais acentuada, com uma mobilidade quase perfeita dos fluxos financeiros à escala planetária1.

Um fenómeno histórico

O processo de mundialização não é novo; é um movimento secular cuja origem os historiadores situam no século XVI, aquando da "descolagem" económica da Europa e da intensificação das trocas desta última com as duas grandes civilizações dessa época, o mundo árabe e a China. Mas, para muitos economistas, o primeiro grande episódio de mundialização económica e financeira situa-se no século XIX, quando se constata uma intensificação das trocas internacionais de mercadorias e de capitais entre a Europa e o "Novo Mundo" das Américas. Trata-se de um processo de expansão "da economia-mundo", de acordo com a expressão do historiador Fernand Braudel, comparável, em vários aspectos, à que conhecemos actualmente. O processo de mundialização é interrompido pelos dois conflitos mundiais, e pelas dificuldades económicas e financeiras entre as duas guerras, nomeadamente a hiperinflação alemã de 1923-24 e a grande depressão dos anos 1930. O fraccionamento da economia-mundo prossegue no pós-guerra e por duas séries de razões. Por um lado, a "guerra fria" divide o planeta em dois blocos. Por outro lado, durante os "Trinta gloriosos" (1945 - 1975), a economia e a finança são organizadas sobre bases nacionais, com um forte intervencionismo dos Estados: é o "regime fordista".




A retoma do processo de mundialização: uma escolha política

Para muitos observadores, a fase contemporânea da mundialização será apenas a retoma do processo interrompido pela guerra de 1914-1918, com a unidade reencontrada de um mercado mundial global e o triunfo planetário da economia capitalista, que se impõe à todos, como antes de 1914. A perda de dinâmica do regime de crescimento fordista, a partir dos anos 1970, explica o regresso em força do capitalismo liberalizado e mundializado. A redução dos ritmos de crescimento ligada à subida da inflação (a estagflação), bem como a queda das taxas de lucro das empresas, provocam uma mudança de direcção nas políticas económicas, marcada pelo aumento brutal das taxas de juro que foi imposto pelo Federal Reserve americano, a partir de 1979. A "revolução conservadora", impulsionada por Ronald Reagan nos Estados Unidos e por Margaret Thatcher na Grã-Bretanha, procura redinamizar o capitalismo através das políticas de desregulamentação e de privatização. Estas políticas, ditas "neoliberais", visam refazer as ligações com a ideologia da livre iniciativa e do comércio livre desenvolvidas por Adam Smith e por David Ricardo no século XIX. Mas, o projecto político neoliberal é diferente porque consiste em dar a prioridade absoluta à lógica do mercado e aos interesses dos detentores do capital financeiro, o que explica o papel dominante da finança no processo contemporâneo de mundialização.

Para o tema, aconselho o leitor a procurar nas livrarias a obra "O Mundo É Plano" do multi-premiado jornalista estadunidense Thomas L. Friedman.


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