domingo, 28 de novembro de 2010

O Melhor Economista de Sempre

Neste nosso mundo, o triunfo é ambicionado por todo o comum dos mortais. Vê-se busca pelo triunfo nos clubes de futebol, nas mais variadas empresas e universidades, e até nas centrais sindicais. Se a vontade move montanhas, na nossa sociedade capitalista, a vontade de se sentir brisas de glória moverá penínsulas. Como apreciadores do mundo económico que somos, surge-nos então a pergunta cliché:

Quem terá alcançado, até aos dias de hoje, o maior sucesso e triunfo nos palcos e bastidores da ciência económica?

Comecemos por avaliar o termo “triunfo” à luz das consciências do séc. XXI. Para além do impacto positivo que o indivíduo em causa provoca na sociedade durante o período de tempo em que trabalha inserido nela, também importará para o tópico em questão o nível de inovação que o próprio oferece ao mundo, ou seja, aquilo que de novo este introduz na sua arte, tendo por isso também de se ter em conta as condições que este teve ao seu dispor no caminho para atingir as metas designadas.

É pelo que já referi, que faço desta questão uma competição com poucos corredores. Considerarei como finalistas para este modesto “hall of fame contest”, os três economistas mais estudados e debatidos por todo o mundo: Samuelson, Keynes e Friedman.

(Embora Adam Smith não entre, para mim, nesta discussão, reconheço-o como o pai da Economia enquanto ciência, acreditando por isso que toda a comunidade científico-económica deverá lembrar-se dele com imensa gratidão por tal feito.)


-Em 1970, Paul Samuelson (1915-2009) tornou-se o primeiro economista americano a ganhar o Prémio Nobel da Economia, tendo sido considerado por órgãos de prestígio (como o New York Times, ou as Swedish Royal Academies), como sendo o mais importante economista do séc. XX no que diz respeito a áreas estruturantes da ciência da economia como a análise económica.

O trabalho e a crença de Samuelson foram influenciados por Keynes, tendo o primeiro liderado a escola Neo-Keynesiana e atacado diversas vezes o discurso libertarista de Friedman.

Quem estudou Gestão, Finanças, Economia ou até Direito, e está agora a viver a sua meia idade (ou nem por isso) prontamente se lembrará das obras académicas de Samuelson. É um facto: Já se leu em Portugal mais vezes este autor, do que a própria Bíblia ou os Lusíadas, ao longo do último século.

No entanto, o autor do livro de Economia mais vendido de sempre (“Economia: Uma Análise Introdutória”) e vencedor da Medalha John Bates Clark, afasta-se do primeiro lugar do pódio por não ter contribuído, tanto quanto outros autores, para a inovação e progresso da ciência sócio-económica.

Embora tenha sempre defendido ferozmente as teorias de Keynes, Samuelson nunca criou nenhuma “arma teórica” poderosa que tenha sida usada contra a “Escola de Chicago” liderada por Milton Friedman (”escola” essa que foi sempre alvo dos seus constantes ataques públicos). Triunfou pelo auxilio notável prestado ao estudo da Economia, mas afastou-se do essencial: Contribuir de modo prático e marcante para a mudança da realidade vivida pela sociedade que o rodeou.


-John Maynard Keynes (1883-1946) fica para a história como sendo o economista britânico cujas ideias afectaram mais profundamente as teorias e práticas da macroeconomia moderna. “Intervencionismo” foi a palavra que melhor o definiu.

Tendo o seu pico de fama surgido entre 1929 a 1933, ao ser chamado pelo Presidente Americano Roosevelt para implementar o New Deal, Keynes recuperou a economia americana depois do choque da Grande Depressão – a maior crise económica da História da Humanidade – ao promover políticas de investimento público com vista a gerar novos postos de trabalho através das obras públicas promovidas pelo governo (e assim colocar a economia estadunidense de novo em funcionamento).

Economista genial e homem fraterno, Keynes combateu o mais terrível cenário económico de sempre: O da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. As taxas de desemprego eram de 25% (ou um quarto de toda a força de trabalho americana). Com sangue frio. A famosa frase “No longo espaço de tempo estaremos todos mortos” foi a máxima utilizada pelo inglês quando este expressou em público a real necessidade de se tomarem medidas imediatas, depois de milhões de pessoas terem perdido o seu ganha-pão, e de centenas de homens e mulheres se terem suicidado (tal foi o desespero provocado pelo pós “Crash” da bolsa de Nova York).

John Maynard Keynes fica para a História mundial como o mais carismático intervencionista de todos os tempos. O objetivo de Keynes, ao defender a intervenção do estado na economia não é, de modo algum, destruir o sistema capitalista de produção. Muito pelo contrário, segundo o autor, o capitalismo é o sistema mais eficiente que a humanidade já conheceu (incluindo aí o comunismo ou o fascismo). O objectivo é o aperfeiçoamento do sistema, de modo que se una o altruísmo social (através do Estado) com os instintos do ganho individual (através da livre iniciativa privada). Segundo o autor, a intervenção estatal na economia é necessária porque essa união não ocorre por vias naturais, graças a problemas do livre mercado (desproporcionalidade entre a poupança e o investimento, assim como o "Espírito Animal" dos empresários).

Hoje em dia é o economista “da moda”. Está na moda invocar Keynes, assim como está na moda aplicar políticas com justificação nas supostas teorias Keynesianas. Resultado? A maior parte das tentativas caem por terra, pois tal como disse um dia o fiscalista Henrique Medina Carreira “essa gente lê o Keynes como quem lê receitas de bacalhau”, tendo em conta que os grandes pensadores da economia deverão ser sempre considerados à luz dos tempos em que viveram. Quem nunca ouviu o nosso actual Primeiro-ministro invocar a obra megalómana do TGV “pelo bem da economia portuguesa"? É urgente que alguém o lembre de que estamos no século XXI, desarmados de política monetária (que está nas mãos da União Europeia) e com as fronteiras abertas a um mundo globalizado… Tal política Keynesiana “à lá Partido Socialista português” é por isso plenamente inútil nos dias de hoje, resultando apenas em postos de trabalho fantoches e efémeros, assim como num aumento gratuito do défice público.

Tendo inspirado milhares de Economistas por todo o mundo, Keynes surge-nos como "o salvador”. Mas bastará, para se ser o “melhor de sempre”, apenas e só ficar-se por um brilhante resgate, depois do mal já nos ter atingido?


-Milton Friedman (1912-2006), nascido no bairro do Bronx em Nova Iorque, filho de imigrantes ucranianos pobres, ganhou tudo o que havia para ganhar no seu tempo: A Medalha John Bates Clark, o Prémio Nobel da Economia (1976), a Medalha Presidencial da Liberdade e a Medalha Nacional da Ciência. Foi “líder” da Escola Económica de Chicago, um dos principais fomentadores da ideologia política actualmente conhecida como libertarianismo e conselheiro do mítico presidente americano Ronald Reagan.

Ainda jovem, Friedman participou com Keynes no New Deal, tendo se “virado” contra as teorias do seu mestre na década de 1950, reinterpretando o trabalho do inglês. A partir daí, Friedman foi até ao dia da sua morte o mais controverso e refrescante economista do mundo.

Tendo escrito vários best-sellers acerca da liberdade Humana e da teoria monetarista, Friedman fica para a História como o “não intervencionista”, tendo sido sempre um defensor acérrimo do capitalismo democrático sob a forma de Livre Mercado maximizado. Milton Friedman, achava que o Estado tinha o dever moral de se intrometer o menos possível na vida económica dos países, reflectindo-se essa mesma moral em efeitos práticos no que concerne à qualidade pura da economia e ao seu desempenho.

Responsável pela mítica frase “Os governos nunca aprendem, só as pessoas é que aprendem”, Friedman deixa-nos um legado rico a todos os níveis, inclusive uma panóplia de séries televisivas disponíveis online que são ainda hoje ponto de auxílio para milhares de estudantes por todo o mundo.

Mas o que coloca afinal Friedman à frente de Keynes?


- Para além do não ter sido “pai” de nenhum movimento político e ideológico marcante e actual, Keynes perdeu a batalha da Grande Depressão contra Friedman, pois não a conseguiu prever e evitar enquanto teve oportunidade. Friedman, ao reinterpretar pela primeira vez a teoria Keynesiana, detectou um modo brilhante a partir do qual teria sido possível evitar a Grande Depressão. A resposta está na política monetária através da qual este propõe a injecção de “novo dinheiro” nos bancos que se encontravam a um passo de negar o levantamento de moeda aos seus depositantes. Deste modo, ao verem que o seu dinheiro estava em segurança, as pessoas não o levantariam das suas contas, sossegadas por sinais públicos de tranquilidade expressados diariamente pelas instituições bancárias – simples, Humano, brilhante e um ponto de acordo para enorme parte dos economistas actuais. Com esta jogada, a inflação subiria, é certo, mas poderia mais tarde ser combatida com políticas anti-inflacionárias simples. Por outro lado, o sistema empresarial não cairia por falta de crédito, impedindo assim a desgraça da crise de acontecer (ou pelo menos, de acontecer do modo que os americanos a sentiram na pele).

Assim jogam os mestres do triunfo…

5 comentários:

  1. Ignoraste, na minha opinião, o maior economista da História...

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  2. Boa tarde Ana Patrícia!

    Por vezes, na Ciência Económica, torna-se complicado escolher um "top", seja ele referente a qualquer tipo de índice ou critério.

    Dois economistas dos quais estive a um passo de juntar à lista de "nomeados" foram Adam Smith e Karl Marx.

    Se por um lado explico nas primeiras linhas o porquê da não inclusão de Smith, o mesmo não o fiz com Karl Marx.

    Não incluí o segundo, pois embora reconheça a sua notória contribuição para a arte (e necessidade!) do "sociologicar", não entendo como sendo revolucionário o seu contributo científico-económico para a nossa ciência. O que Marx fez (e bem), foi algo de louvar: O rejuvenescimento da falange político-social dos tempos em que viveu (e talvez não só). Mas terá sido esse rejuvenescimento tão "dourado" ao ponto de introduzir conceitos inovadores de modo a mudar o destino da Humanidade? Já não "sociologicaram" antes de Marx, também em defesa do proletariado, outros génios marcantes? Penso que entendemos bem isso quando lemos (por exemplo) Hegel.

    No que diz respeito a muitas das suas ideias, Marx pertenceu a eras muito antigas, especialmente na construção da sua filosofia. Marx substituiu a evolução Hegeliana do Espírito ("Geist") pela evolução dos factores materiais de produção, por exemplo.

    Embora entenda que Marx tenha "introduzido algo de novo na sua arte" (e por isso será, mais tarde, alvo de uma crónica singular bem mais aprofundada), Marx não foi autor de nenhum dos maiores "impactos positivos na sociedade durante o período de tempo em que trabalhou inserido nela". Se estudarmos a vida de Karl Marx, vê-mos facilmente que foi alguém com pouco "hype" em tempo de vida (1818—1883), já para não falar de não ter sequer participado na criação do primeiro regime que se terá supostamente baseado nos seus "escritos" (e cujo resultado foi catastrófico: Tema à parte).

    Se me tivesse debruçado sobre qual o melhor filosofo ou sociólogo da história, Marx teria certamente entrado para a disputa (se é que não a tivesse mesmo ganho). E mesmo reconhecendo que um economista deverá saber/fazer de tudo um pouco, e que o seu contributo para a sociedade é eterno, essa "eternidade" será avaliada pela positividade ou negatividade das interpretações que os outros farão das suas teorias. E convenhamos, que interpretadores há muitos. Leitores? Mais ainda... Mas o único capaz de produzir e materializar na integra as suas intenções, ou mesmo fazer sentir o "puro impacto positivo na sociedade" é o próprio individuo, que infelizmente, é mortal como todos os que o rodeiam...

    Agradecendo com gosto o seu comentário, pergunto-lhe, a que economista se refere?

    Cumprimentos!

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  3. Foste rapidamente lá :)

    Quando leres a obra de Marx vais perceber que ele se esqueceu logo da Filosofia e da História para se dedicar à Economia. E independentemente das nossas convicções políticas/económicas, os efeitos do seu pensamento foram os mais profundos e influentes de sempre na História da Filosofia ou da Economia. A começar nas revoluções de 48 ainda durante a vida de Marx, e prolongando-se até hoje...

    Que outro economista pode reinvindicar tal herança?

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  4. Embora entenda a sua opinião, considero pessoalmente, em termos da ciência económica, que os efeitos provocados por Marx na realidade em que viveu foram menores do que aqueles provocados por qualquer um dos outros nomes que coloquei para o top da crónica. Comecemos por pensar no mundo em que vivemos hoje, e pensemos de seguida naquilo em que Marx foi elementar na sua existência/criação: Na esfera social, já nomes sonantes antes dele tinham efectivamente começado o seu legado e triunfos (falo de políticos pro-sociais). Já na realidade do apoio e progresso universitários, Marx teve um contributo muito baixo ou mesmo nulo, já para não falar na teorização das políticas macro e micro económicas.

    Lendo as obras mais marcantes de Friedman (desde "O Poder Do Dinheiro" a “Liberdade Para Escolher”) e literalmente todas as obras (comercializadas) de Keynes, ocorre-nos o pensamento de "eu sinto isto na pele", e prontamente reconhecemos que se não fosse aquela personagem em questão, que nunca teríamos o que temos hoje (seja isso o que for). Quanto a Samuelson, basta-nos fazer uma visita à biblioteca de qualquer universidade portuguesa.

    Penso que Marx é o economista do "hype" injusto. O que é que o diferenciou brutalmente de Hegel? O que é que diferenciou brutalmente o seu pensamento económico do pensamento do Conde de Saint-Simon? Arrisco hipótese: A altura em que começou a sua "campanha" (curiosamente, a mesma altura em que, por exemplo, Charles Dickens escrevera os seus 'best sellers'...). Teve mérito por ter continuado a "gritar" o que muitos já tinham vindo a "gritar"? Teve mérito por ter "juntado várias cartas dentro do mesmo baralho"? Sem dúvida... Mas não creio que tenha tido o mérito suficiente para ser considerado o melhor da história da economia.

    Para ser sincero, quando leio Marx, e quando leio Hegel, parece que estou a ler uma edição diferente de um mesmo livro... Ou pelo menos de um livro com não muita alteração estruturante.

    Ao contrário de Marx, Milton Friedman fez de tudo e inovou tudo. E foi por ter inovado (contribuído com algo puramente novo e intenso), que lhe atribuí o lugar nº1 no pódio. Friedman foi o primeiro a atrever-se a dizer que "cada pessoa governa melhor aquilo que é mesmo dela", foi o maior estudioso da inflação e das suas consequências, assim como foi o único economista que fez um levantamento de todas as políticas monetárias intervencionistas que o Ser Humano conhece - tendo inovado umas quantas. A lista continua e continua, tendo Friedman ficado também conhecido pelos seus trabalhos académicos em Chicago para o estudo de quais os efeitos negativos que as políticas económicas governamentais podem causar aos imensos agentes micro-económicos. Ao olhar para isto tudo penso: Sim, este economista não só mudou o estilo de vida do Homem, como para além de ter sido o primeiro a sugerir o que sugeriu foi sobretudo a cara da ciência económica mais marcante do séc.XX. O mais curioso, é que com os Partidos Libertarianistas que começam a surgir um pouco por todo o mundo, Friedman corre ainda o "risco" de ser "o economista do séc.XXI". Basta ver o crescimento assustador que o P.L. americano tem tido na última década (já para não falar do sucesso bruto que o congressista libertarianista Ron Paul tem tido dentro do Partido Republicano e junto do seu eleitorado).

    Ao contrário do que muita gente pensa, Marx não criou a política social que visa ajudar as massas e o proletariado. Karl Marx nem sequer "criou" o socialismo, pois este provem de muitos mais anos de estudo e teorização... Dou-lhe o mérito que acho que merece, mas não o de ser "o melhor de sempre".

    Ainda assim, fica prometida a crónica aprofundada a um dos mais influentes e marcantes intelectuais do séc.XIX! :)

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  5. aff que lista lixo

    nem citou hayek , paul samuelson? pff

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