sábado, 1 de outubro de 2011

Era uma vez no Texas


Um professor de economia da universidade Texas Tech disse que raramente chumbava um aluno, mas tinha, uma vez, chumbado uma turma inteira.
Esta turma em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e "justo".
O professor então disse, "Ok, vamos fazer uma experiência socialista nesta turma. Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas dos exames."...

Todas as notas seriam concedidas com base na média da turma e, portanto seriam "justas". Quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significaria que ninguém chumbaria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia 20 valores...

Logo que a média dos primeiros exames foi calculada, todos receberam 12 valores.

Quem estudou com dedicação ficou indignado, pois achou que merecia mais, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado!

Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.
Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que também eles se deviam aproveitar da media das notas.
Portanto, agindo contra os seus princípios, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos.

O resultado, a segunda média dos testes foi 10. Ninguém gostou.

Depois do terceiro teste, a média geral foi um 5.

As notas nunca mais voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, procura de culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma.
A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma.
No fim de contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar os outros.
Portanto, todos os alunos chumbaram... Para sua total surpresa.
O professor explicou que a experiência socialista tinha falhado porque ela era baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes.
Preguiça e mágoas foi o seu resultado.
Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", disse, o professor, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós.
Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não lutaram por elas, então o fracasso é inevitável."

Este pensamento foi escrito em 1931: "É impossível levar o pobre à prosperidade através de leis que punem os ricos pela sua prosperidade.

Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa tem de trabalhar recebendo menos.

O governo só pode dar a alguém aquilo que tira de outro alguém.
Quando metade da população descobre que não precisa de trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."

Adrian Rogers, 1931

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

É a oposição que temos!

«Assumo com orgulho todo o passado do PS. Tenho muito orgulho em tudo o que fizeram os ex-líderes, incluindo o meu camarada José Sócrates.» - António José Seguro (11/09/2011).

Eu costumo dizer que clube só tenho um e é no futebol. Ao que parece, este senhor também tem um clube, mas é na política. Aparentemente é adepto fanático do mesmo...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Dia Em Que o Robin dos Bosques Foi à Universidade - in "Jornal Económico Oje", "O Diabo" e "A Ordem"




O Ser Humano tem uma característica curiosa. Tenta resolver males que atingem os mais desfavorecidos, do modo mais impróprio: Com o coração cheio de boas intenções, mas com a cabeça vazia de lógica.

Disse um dos grandes pensadores do séc. XIX, que “o caminho do inferno está pavimentado de boas intenções”. Ao fim e ao cabo, acaba por atingir os telhados de vidro daqueles que defendem um Estado polvo, gordo e omnipresente, no qual o indivíduo não chega a ter liberdade de escolha.

Mal cessam os protestos contra a diminuição do valor das bolsas de estudo para alunos do ensino superior, já surgem as notícias de que mais de oito mil estudantes universitários podem ter de desistir dos seus cursos por falta de apoio.

O Estado português afirma não haver dinheiro suficiente nos cofres que permita a sustentação dos níveis de auxílio universitário que temos vindo a encontrar em Portugal. Só há uma conclusão a ser tirada deste panorama: Caiu o primeiro de tijolo do muro que é esta falácia de “estado social” que temos vindo a conhecer nos últimos anos.

Este problema da falta de capital para as bolsas, veio provar o que muitos liberais têm vindo a dizer, em surdina, desde há muitos anos: Não apenas é insuportável para o Estado “oferecer” o dinheiro das propinas a todos aqueles que querem - e à partida não podem - ter acesso à faculdade, como é também errado achar-se que esse mesmo Estado estará a ser imoral se não o fizer.

Comecemos por desmantelar o famoso mito da (pseudo) igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior português: Quem são as pessoas que vão estudar para a universidade? Maioritariamente, pessoas que vêm de famílias de classe média / média alta. Os alunos que vêm de famílias de classe baixa / média baixa (que não são poucos), farão também parte das classes média e média altas, quando seguirem para o mercado de trabalho. Eles são os mais ricos de entre os pobres. Eles são os jovens que vão à faculdade e que receberão mais benefícios por isso. O treino que eles recebem dar-lhes-á forma de obter salários que de outro modo não conseguiriam.

Quem paga isto? É verdade que os estudantes o pagam, ainda que não totalmente, sob forma de propinas (até porque elas só cobrem uma ínfima parte dos gastos das universidades…), mas principalmente todos os contribuintes – incluindo os que não vão à universidade.

À partida soa-nos bem, mas debruçando-nos sobre o tema, não fará sentido que o Sr. Manuel, operário de construção civil em Palmela, seja obrigado a pagar o “salto de classe” que um estudante universitário dará. E porquê? Porque não é justo pedirmos que contribuintes de classe baixa / média baixa, alguns deles a ganhar autênticas misérias mensais, paguem a faculdade a indivíduos que, à partida, daqui a 5 anos estarão a caminho de pertencer às classes favorecidas - classes essas, às quais o Sr. Manuel não pertence nem pertencerá.

O que devemos então fazer? Deixar entrar na universidade só quem tem dinheiro? Não. Como seres fraternos que somos, não podemos aceitar esse cenário. A solução passa por permitir que todo aquele que queira ingressar na universidade o possa fazer… desde que esteja dispostos a pagar por tal! Não agora, certamente. Mas sim quando acabar o curso, depois de já fazer parte da dita “classe favorecida”, tendo nesse momento acesso a um salário superior. É do interesse de todos os cidadãos, que se criem mecanismos que permitam ao estudante desfavorecido devolver aos contribuintes os custos da formação superior (diferente de “educação”) que estes suportaram – tendo em consideração que essa devolução deverá ser feita sem qualquer juro e assegurando sempre a comodidade e conforto de pagamento para o licenciado, caso contrário poderíamos estar a desincentivar a frequentação do ensino superior.

Mais digo: O recente estudo feito pelo prestigiado sociólogo Ricardo Antunes encontrou diferenças de longevidade de mais de dez anos entre os mais ricos e formados e os mais pobres e com menos formação. Concluo portanto, que alguém que entra aos dezoito anos no mercado de trabalho, e que desde essa idade começa a descontar impostos para a segurança social, irá trabalhar mais e auferir menos, do que alguém que fez uma licenciatura e mestrado, e que descontou menos cinco anos do que o primeiro trabalhador.

É verdade que o investimento na formação de capital humano é o principal factor de crescimento económico moderno das sociedades. Mas não há almoços grátis… Devemos por isso conseguir assegurar esse mesmo investimento! E sem dúvida que haverá centenas de maneiras de o fazer, incentivando os nossos jovens a licenciarem-se e a prosseguir com os seus estudos, pois isso será benéfico para todo o país.

Engraçado sem grande graça é reparamos que os planos de apoio social, com vista a auxiliar os mais desfavorecidos com o dinheiro de quem, supostamente, não precisará tanto de tais cuidados – regularmente intitulados na esfera política por “actos Robin dos Bosques” - acabam, em grande parte dos casos, por prejudicar aqueles com menos posses.

Infelizmente, no dia em que o Robin dos Bosques foi à Universidade, o Estado português desempenhou na perfeição o papel de xerife de Nottingham.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Nova Sondagem


O ex-Primeiro Ministro social-democrata Pedro Santana Lopes, declarou à imprensa estar cada vez mais afastado ideologicamente das posições assumidas pelo PSD, tendo estado a pensar inclusive na criação de um novo partido político.


Por isso, fica aqui uma nova sondagem com a pergunta "Fará falta um novo partido político em Portugal?" e com as respostas "Sim" ou "Não".

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Palestra com David Justino

Estive ontem pelas 18h na Didáxis Cooperativa de Ensino (Riba d'Ave, Famalicão) a assistir a uma interessante palestra com o Professor Doutor David Justino, universitário de vasto currículo que liderou o Ministério da Educação de Durão Barroso entre os anos 2002 e 2004.

Era fácil de se prever o tópico principal que o colóquio abordaria, tendo em conta os tempos perturbados pelos quais a nossa Educação está a passar: Liberdade de escolha no ensino foi o mote para motim.

O discurso de David Justino tentou rondar o centrismo no que toca ao "duelo" entre o ensino privado/cooperativo e o oficial, não tendo o professor da Universidade Nova de Lisboa abordado, no tempo regulamentar do seu discurso, a diferença abismal entre os 11% de cortes ditados para o ensino público e os 30% sentenciados para o "privado".

O Ministro da Educação do XV Governo Constitucional expressou não querer batalhar no que toca ao cliché "ensino público vs ensino privado" - promessa que acabou por não cumprir - tendo dito que, na sua opinião, o fundamental seria apenas e só que o Estado conseguisse o garantir da qualidade de ambos, defendendo a sua coexistência. Destaca-se o facto de que embora tenha enaltecido, ao fim e ao cabo, o ensino público, acabou por confessar ter o seu filho a estudar numa escola totalmente privada em Oeiras. A plateia ficou com a impressão de que o ex-ministro estava a propor algo bastante próximo do "aconselho-vos a colocar os vossos educandos no ensino oficial, pois este é óptimo! Mas eu cá ponho o meu no privado... Pelo sim pelo não".

Porque é que a maioria dos pais dos alunos portugueses prefere, à priori, ter os seus filhos a estudar em escolas cooperativas/privadas? Porque é que eles sabem que os seus educandos vão estar mais seguros nessas escolas? Porque é que eles têm a perfeita noção de que os jovens vão estar mais bem acompanhados no ensino cooperativo e particular (no geral!), no que toca aos professores e ao apoio por eles prestado? Arrisco hipótese: Porque a tradicional figura do "patrão" não está a quilómetros de distância das instalações, em nenhum ministério localizado em Lisboa. Referiu um dia Milton Friedman, génio americano laureado do Nobel da Economia, que o Ser Humano gere melhor tudo aquilo que é dele próprio, do que tudo aquilo que pertence a terceiros; só posso aplaudir de pé, pois nunca um quadro directivo nomeado por algum Ministério da Educação superará uma Direcção Pedagógica com interesses próprios: O conceito literal de "patrão presente na loja".

Mas mesmo que o palestrante tivesse conseguido fugir ao confronto entre ambos os "mundos", surpreendeu-me em especial todo o abordar do tema da liberdade de escolha na Educação, tendo David Justino apresentado uma visão claramente anti-libertária da matéria, baseando-se num argumento minimamente carismático mas falacioso.

O ex-ministro expressou junto de todos os presentes na sala não defender actualmente a liberdade de escolha na Educação, acreditando que tal liberdade é utópica, pois para isso teriam de existir escolas cooperativas/privadas em todos os conselhos do Norte ao Sul do nosso país. Ora, e baseando-me noutro tipo de "negócios", lembro-me de que antigamente na freguesia de uma conhecida minha não havia quaisquer táxis. As pessoas interessadas tinham de ligar para a central do concelho sempre que queriam chamar uma "boleia" para as levar onde queria que fosse. Ora, notando esta "falha no mercado", o gestor de uma outra central dos táxis da região acabou por colocar um carro próximo do sítio onde essa minha colega vive, garantindo assim conquista de novo negócio dando transporte mais rápido aos frequentes utilizadores da outra companhia.

Ofereço mais um exemplo: Na cidade onde vivo não há escolas privadas, e houve uma fase, há uns anos atrás, em que os pais de vários jovens faziam questão em que eles fizessem o seu ensino secundário numa escola integralmente privada. Obviamente que aquela dúzia de pais não iria fundar um "Colégio de Famalicão"... Tendo em conta a fama pouco positiva possuída pelo Colégio da Trofa daquela altura, os pais viam-se "obrigados" a enviar os seus filhos para o Porto. Mas da mesma forma que no concelho existiam encarregados de educação com a intenção de enviar os seus filhos para o ensino estritamente particular, também em Santo Tirso, Trofa e outros conselhos à volta havia pais com a mesma vontade. Resultado? O Colégio Riba d'Ouro, no Porto, viu aqui uma boa oportunidade e imediatamente criou um segundo pólo entre todos estes concelhos do baixo Minho/douro litoral. Hoje em dia o colégio em questão é dos mais procurados da nossa zona.

Se não existisse uma única escola cooperativa no concelho X, e se os pais dos alunos quisessem a existência de tal instituição, bastar-nos-ia recorrer à incrivelmente complicada Lei da Oferta e da Procura... Se há falta de serviços, a "mão privada" irá dotar essas zonas desses mesmo elementos.

Vejo à minha volta que negócios existem imensos, a diferença é que, por vezes, está do lado de quem os regula.

Não achei o argumento minimamente plausível, e só não intervim pois tive de sair da sala antes da segunda ronda de perguntas por motivos de força maior. Fica o conselho: Deixem as pessoas comandar os seus próprios destinos de vida, caso isso não vá contra a liberdade de terceiros.

Máquina estatal minimalista precisa-se urgentemente em Portugal. Está na altura de todos nós (uns mais que outros) relermos a verdadeira definição da palavra "Estado" - ninguém ficará a perder. "Viver e deixar viver", essa deveria ser a via de qualquer democrata.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Globalização Cultural

A globalização é um dos processos de integração económica, social, cultural e espacial dos países do mundo no fim do século XX. É um fenómeno observado na necessidade de formar uma “Aldeia Global” que permita maiores ganhos para os mercados internos já saturados.

As sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da História. Mas o processo histórico que se denomina Globalização é bem mais recente (o próprio fim da Segunda Guerra Mundial, desencadeou uma necessidade de globalização).
As principais características da Globalização são a homogeneização dos centros urbanos, a expansão das corporações para regiões fora de seus núcleos geopolíticos, a revolução tecnológica nas comunicações e na electrónica, a reorganização geopolítica do mundo em blocos comerciais regionais, a hibridação entre culturas populares locais e uma cultura de massa supostamente "universal", entre outros. É exactamente desta última que vamos falar.

A globalização cultural é tomada como ideologia fundamental de um plano de instrução de formação, que resultará na configuração de um mundo integrado e organizado no modelo de um gigantesco “Estado-Nação”. Essa visão é polémica internacionalmente.

Um grupo de restaurantes Mc.Donnald's em Cuba, e charutos cubanos, puros, à venda em tabacarias na Europa, são alguns dos sonhos visionados pelos defensores da Globalização Cultural. Mas quão tangível e moral será essa intenção?

Imensas pessoas e entidades (governamentais e não governamentais) começam já, um pouco por todo o mundo, a apelar ao nacionalismo em defesa da noção patriótica tradicional de "Estado" como sendo, obrigatoriamente, um recipiente único e homogéneo dos mesmos costumes derivados da mesma história e identidade.

Quem nunca ouviu falar no ressurgimento da extrema-direita por todo o mundo? Partidos Nacionalistas surgem por toda a Europa, como que de um grito de revolta face ao "sonho globalizador cultural" se tratasse. Não creio que lhes seja de todo ilegítimos tais protestos, compreendendo a revolta de um Estado Francês cujas portas foram escancaradas face a uma imigração descontrolada (mas economicamente necessária). Mas quem abriu as portas? Seria mesmo a imigração massiva a única solução para os graves problemas demográficos franceses? E quem é o culpado dessa quebra demográfica de mão à palmatória? Ficam assinaladas algumas questões para discussão futura.

Pessoalmente, não acho que um Starbucks posicionado no centro histórico do Porto venha destruir a nossa coesão e património culturais, mas certamente que o esquecimento de factores culturais próprios poderá vir a ter efeitos nocivos nessa temática (e.g. a nossa música tradicional). Deveremos por isso preocupar-nos com o que merece preocupação e esquecer o que é inofensivo e desprezável (em termos de efeito contra-costume). Se os portugueses quiserem, teremos uma "Big Feijoada" no Mc.Donnald's, do mesmo modo que já tivemos as Mc.Sopas disponíveis para venda em qualquer estabelecimento do palhaço Ronnald. Se o povo quiser X, os empreendedores (à priori) dar-lhes-ão X.

É preciso que se perca o paradigma de que a Globalização Cultural é mais um monstro de dentro do armário. Se o for, certamente que será do tamanho que os cidadãos quiserem.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Diluente Crónico #4 (in Jornal Cidade Hoje)


Educação, volta: Estás Perdoada!


Estranho! “Estranho”, é a palavra que inicialmente me vem à cabeça quando penso que o Orçamento da Educação para 2011 tem um corte de 11,2% - a maior diminuição de sempre. Haverá menos 30% de verbas para o ensino cooperativo/privado, enquanto que para o público existirá menos 11%. Em seguida lembro-me de quem lidera os destinos económicos de Portugal. A palavra com que iniciei esta crónica acaba por desvanecer, afogada pelo desânimo do costume…

Coloco fora de discussão qualquer tipo de disputa entre os ensinos público e privado/cooperativo. Na verdade, ambos os sistemas podem coexistir e poderia até haver ajustamentos, como os tais cortes anunciados, estando nós a passar por um período de recessão, mas não desta forma. O que o Governo agora propõe é algo surreal, mudando completamente as “regras do jogo” definidas para este ano lectivo (que ele próprio definiu). Com efeitos retroactivos desde Setembro, o actual executivo pretende fazer com que sejam pagos este ano 86 mil euros, enquanto o vencimento dos professores, funcionários e despesas com as turmas é de 93 mil euros/ano! Não posso deixar de enviar uma palavra de solidariedade a todos os Gestores de Educação que se vêm hoje com a “batata quente” na palma das mãos, que cai no colo de todos os estudantes.

Olhemos para o exemplo da Didáxis, a escola onde estudo há cerca de 8 anos e uma das mais prestigiadas cooperativas de ensino do nosso país: tem uma gestão autónoma, mas para além dessa característica, funciona do mesmo modo que o ensino oficial, isto é, sem diferenciação de acesso. Há abertura total à sociedade, não sendo cobradas quaisquer propinas mensais. Deverá então ser posta no mesmo saco que as escolas (literalmente) privadas?

A verdade é que em tempo de crise, o que todos querem é sair o mais rapidamente possível dela. Ora, não é preciso ter-se um doutoramento em ciências económicas para se saber que sem uma Educação forte, torna-se mais difícil haver um crescimento económico também ele forte. Investir na Educação e na Formação dos nossos cidadãos não é, nada mais, nada menos, do que investir em capital humano, que por sua vez nos leva a um aumento do crescimento económico. Desenganem-se aqueles que pensam que existe margem de manobra nesta questão… Qualquer economista tem a obrigação de saber que o investimento em capital humano é hoje a principal fonte de crescimento económico moderno a médio/longo prazo (verdade académica) – mas será que o “estrutural” interessa a quem nos governa?

Hoje não temos políticas contraciclo, próprias da Economia moderna: Em tempo de recessão, o Estado deverá aplicar políticas expansionistas que façam com que a economia cresça. Aprende-se esta complexíssima teoria no 12º ano de escolaridade (quem escolher a disciplina de Economia C)… Quem não se lembra de há uns meses ouvir o nosso Primeiro Ministro na televisão a discursar com elegância acerca da importância de se investir na Educação com vista à saída da crise? "Este investimento que estamos a fazer nas escolas é o melhor investimento que podemos fazer para combater a crise, para dar emprego, para dar oportunidades às empresas portuguesas e ao mesmo tempo investirmos naquele sector que é absolutamente fundamental para o sucesso económico do nosso país", disse José Sócrates no dia 30 de Janeiro deste ano. O que mudou? Terá mudado a chave de sucesso anteriormente profetizada?

Fazer boa política macroeconómica é pensar em prol da população, não em prol de índices ou medidores externos ao serviço daquilo que é efémero, ou seja, recorrendo a políticas conjunturais de curto prazo. Pensar em prol da população, é fazer com que haja crescimento económico, para que com ele se possa sair da actual crise (a maior de sempre desde a Grande Depressão de 1929-1933), de modo a aumentar os postos de trabalho e a qualidade de vida dos que cá vivem. Não se melhora Portugal ao aplicarem-se medidas conjunturais, que no fim desta caminhada, apenas afectarão negativamente a nossa frágil economia neste “Outono económico”, tal como escrevera o economista “soviético” Nicolai Kondratiev.

Se para sairmos da crise é preciso investir, para investirmos é preciso… Investir-se. Aumentará o défice a curto prazo, mas contribuirá tremendamente para nos dar a Economia que todos desejamos, num médio/longo espaço de tempo. Disse um dia o Professor Henrique Medina Carreira que “andamos sempre à procura daquilo que se vê. Aquilo que está atrás do que se vê, já ninguém vê”. Fica a dúvida: Não vemos porque não conseguimos, ou porque não queremos?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Globalização Financeira


Um dos fenómenos notáveis da economia contemporânea é a ascensão e em flecha da finança internacional num contexto de globalização. A globalização financeira pode ser definida como um processo de interligação dos mercados de capitais aos níveis nacionais e internacionais, conduzindo ao aparecimento dum mercado unificado do dinheiro à escala planetária. A globalização financeira inscreve-se num processo histórico longo e complexo, conduzindo à mundialização da economia. As suas causas são múltiplas, de ordem política, demográfica e tecnológica. A globalização financeira deu origem a análises divergentes, mais ou menos optimistas quanto aos seus efeitos sobre o funcionamento da economia mundial. Há, no entanto, um consenso sobre a necessidade de uma reforma da arquitectura financeira internacional, a fim de adaptar esta à globalização dos mercados. Um "novo Bretton Woods" não será ele necessário neste início do século XXI?

As três dimensões da mundialização

Fenómeno complexo, a mundialização abrange uma grande diversidade de processos. Corresponde, em primeiro lugar, à abertura das economias nacionais às transacções internacionais e ao desenvolvimento das trocas de bens e serviços (dimensão internacional). Ela corresponde, a um segundo nível, à mobilidade internacional dos factores de produção, e mais particularmente à dos capitais, é a esta última mobilidade que se chama habitualmente globalização financeira. O vector mais importante deste movimento é constituído pelos movimentos internacionais de capitais, e mais particularmente pelos investimentos directos no estrangeiro (IDE), realizados pelas empresas multinacionais (dimensão multi-nacional). Por último, a mundialização é um processo de interpenetração crescente das economias nacionais, tendendo, pois, a reduzir progressivamente o papel das fronteiras, a enfraquecer as regulações nacionais e a des-territorializar as actividades económicas: mais do que de uma internacionalização da economia, trata-se de uma mundialização dos processos de produção e dos mercados, com mercados integrados e empresas que se tornam "actores globais" cujas decisões e comportamentos parecem escapar a qualquer consideração nacional e parecem ditar a sua lei aos responsáveis políticos nacionais (dimensão global). É no domínio da finança que a globalização dos mercados é mais acentuada, com uma mobilidade quase perfeita dos fluxos financeiros à escala planetária1.

Um fenómeno histórico

O processo de mundialização não é novo; é um movimento secular cuja origem os historiadores situam no século XVI, aquando da "descolagem" económica da Europa e da intensificação das trocas desta última com as duas grandes civilizações dessa época, o mundo árabe e a China. Mas, para muitos economistas, o primeiro grande episódio de mundialização económica e financeira situa-se no século XIX, quando se constata uma intensificação das trocas internacionais de mercadorias e de capitais entre a Europa e o "Novo Mundo" das Américas. Trata-se de um processo de expansão "da economia-mundo", de acordo com a expressão do historiador Fernand Braudel, comparável, em vários aspectos, à que conhecemos actualmente. O processo de mundialização é interrompido pelos dois conflitos mundiais, e pelas dificuldades económicas e financeiras entre as duas guerras, nomeadamente a hiperinflação alemã de 1923-24 e a grande depressão dos anos 1930. O fraccionamento da economia-mundo prossegue no pós-guerra e por duas séries de razões. Por um lado, a "guerra fria" divide o planeta em dois blocos. Por outro lado, durante os "Trinta gloriosos" (1945 - 1975), a economia e a finança são organizadas sobre bases nacionais, com um forte intervencionismo dos Estados: é o "regime fordista".




A retoma do processo de mundialização: uma escolha política

Para muitos observadores, a fase contemporânea da mundialização será apenas a retoma do processo interrompido pela guerra de 1914-1918, com a unidade reencontrada de um mercado mundial global e o triunfo planetário da economia capitalista, que se impõe à todos, como antes de 1914. A perda de dinâmica do regime de crescimento fordista, a partir dos anos 1970, explica o regresso em força do capitalismo liberalizado e mundializado. A redução dos ritmos de crescimento ligada à subida da inflação (a estagflação), bem como a queda das taxas de lucro das empresas, provocam uma mudança de direcção nas políticas económicas, marcada pelo aumento brutal das taxas de juro que foi imposto pelo Federal Reserve americano, a partir de 1979. A "revolução conservadora", impulsionada por Ronald Reagan nos Estados Unidos e por Margaret Thatcher na Grã-Bretanha, procura redinamizar o capitalismo através das políticas de desregulamentação e de privatização. Estas políticas, ditas "neoliberais", visam refazer as ligações com a ideologia da livre iniciativa e do comércio livre desenvolvidas por Adam Smith e por David Ricardo no século XIX. Mas, o projecto político neoliberal é diferente porque consiste em dar a prioridade absoluta à lógica do mercado e aos interesses dos detentores do capital financeiro, o que explica o papel dominante da finança no processo contemporâneo de mundialização.

Para o tema, aconselho o leitor a procurar nas livrarias a obra "O Mundo É Plano" do multi-premiado jornalista estadunidense Thomas L. Friedman.