Quem terá alcançado, até aos dias de hoje, o maior sucesso e triunfo nos palcos e bastidores da ciência económica?
Comecemos por avaliar o termo “triunfo” à luz das consciências do séc. XXI. Para além do impacto positivo que o indivíduo em causa provoca na sociedade durante o período de tempo em que trabalha inserido nela, também importará para o tópico em questão o nível de inovação que o próprio oferece ao mundo, ou seja, aquilo que de novo este introduz na sua arte, tendo por isso também de se ter em conta as condições que este teve ao seu dispor no caminho para atingir as metas designadas.
É pelo que já referi, que faço desta questão uma competição com poucos corredores. Considerarei como finalistas para este modesto “hall of fame contest”, os três economistas mais estudados e debatidos por todo o mundo: Samuelson, Keynes e Friedman.
(Embora Adam Smith não entre, para mim, nesta discussão, reconheço-o como o pai da Economia enquanto ciência, acreditando por isso que toda a comunidade científico-económica deverá lembrar-se dele com imensa gratidão por tal feito.)
O trabalho e a crença de Samuelson foram influenciados por Keynes, tendo o primeiro liderado a escola Neo-Keynesiana e atacado diversas vezes o discurso libertarista de Friedman.
Quem estudou Gestão, Finanças, Economia ou até Direito, e está agora a viver a sua meia idade (ou nem por isso) prontamente se lembrará das obras académicas de Samuelson. É um facto: Já se leu em Portugal mais vezes este autor, do que a própria Bíblia ou os Lusíadas, ao longo do último século.
No entanto, o autor do livro de Economia mais vendido de sempre (“Economia: Uma Análise Introdutória”) e vencedor da Medalha John Bates Clark, afasta-se do primeiro lugar do pódio por não ter contribuído, tanto quanto outros autores, para a inovação e progresso da ciência sócio-económica.
Embora tenha sempre defendido ferozmente as teorias de Keynes, Samuelson nunca criou nenhuma “arma teórica” poderosa que tenha sida usada contra a “Escola de Chicago” liderada por Milton Friedman (”escola” essa que foi sempre alvo dos seus constantes ataques públicos). Triunfou pelo auxilio notável prestado ao estudo da Economia, mas afastou-se do essencial: Contribuir de modo prático e marcante para a mudança da realidade vivida pela sociedade que o rodeou.
-John Maynard Keynes (1883-1946) fica para a história como sendo o economista britânico cujas ideias afectaram mais profundamente as teorias e práticas da macroeconomia moderna. “Intervencionismo” foi a palavra que melhor o definiu.
Tendo o seu pico de fama surgido entre 1929 a 1933, ao ser chamado pelo Presidente Americano Roosevelt para implementar o New Deal, Keynes recuperou a economia americana depois do choque da Grande Depressão – a maior crise económica da História da Humanidade – ao promover políticas de investimento público com vista a gerar novos postos de trabalho através das obras públicas promovidas pelo governo (e assim colocar a economia estadunidense de novo em funcionamento).
Economista genial e homem fraterno, Keynes combateu o mais terrível cenário económico de sempre: O da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. As taxas de desemprego eram de 25% (ou um quarto de toda a força de trabalho americana). Com sangue frio. A famosa frase “No longo espaço de tempo estaremos todos mortos” foi a máxima utilizada pelo inglês quando este expressou em público a real necessidade de se tomarem medidas imediatas, depois de milhões de pessoas terem perdido o seu ganha-pão, e de centenas de homens e mulheres se terem suicidado (tal foi o desespero provocado pelo pós “Crash” da bolsa de Nova York). John Maynard Keynes fica para a História mundial como o mais carismático intervencionista de todos os tempos. O objetivo de Keynes, ao defender a intervenção do estado na economia não é, de modo algum, destruir o sistema capitalista de produção. Muito pelo contrário, segundo o autor, o capitalismo é o sistema mais eficiente que a humanidade já conheceu (incluindo aí o comunismo ou o fascismo). O objectivo é o aperfeiçoamento do sistema, de modo que se una o altruísmo social (através do Estado) com os instintos do ganho individual (através da livre iniciativa privada). Segundo o autor, a intervenção estatal na economia é necessária porque essa união não ocorre por vias naturais, graças a problemas do livre mercado (desproporcionalidade entre a poupança e o investimento, assim como o "Espírito Animal" dos empresários). Hoje em dia é o economista “da moda”. Está na moda invocar Keynes, assim como está na moda aplicar políticas com justificação nas supostas teorias Keynesianas. Resultado? A maior parte das tentativas caem por terra, pois tal como disse um dia o fiscalista Henrique Medina Carreira “essa gente lê o Keynes como quem lê receitas de bacalhau”, tendo em conta que os grandes pensadores da economia deverão ser sempre considerados à luz dos tempos em que viveram. Quem nunca ouviu o nosso actual Primeiro-ministro invocar a obra megalómana do TGV “pelo bem da economia portuguesa"? É urgente que alguém o lembre de que estamos no século XXI, desarmados de política monetária (que está nas mãos da União Europeia) e com as fronteiras abertas a um mundo globalizado… Tal política Keynesiana “à lá Partido Socialista português” é por isso plenamente inútil nos dias de hoje, resultando apenas em postos de trabalho fantoches e efémeros, assim como num aumento gratuito do défice público.
Tendo inspirado milhares de Economistas por todo o mundo, Keynes surge-nos como "o salvador”. Mas bastará, para se ser o “melhor de sempre”, apenas e só ficar-se por um brilhante resgate, depois do mal já nos ter atingido?
-Milton Friedman (1912-2006), nascido no bairro do Bronx em Nova Iorque, filho de imigrantes ucranianos pobres, ganhou tudo o que havia para ganhar no seu tempo: A Medalha John Bates Clark, o Prémio Nobel da Economia (1976), a Medalha Presidencial da Liberdade e a Medalha Nacional da Ciência. Foi “líder” da Escola Económica de Chicago, um dos principais fomentadores da ideologia política actualmente conhecida como libertarianismo e conselheiro do mítico presidente americano Ronald Reagan.
Ainda jovem, Friedman participou com Keynes no New Deal, tendo se “virado” contra as teorias do seu mestre na década de 1950, reinterpretando o trabalho do inglês. A partir daí, Friedman foi até ao dia da sua morte o mais controverso e refrescante economista do mundo.
Tendo escrito vários best-sellers acerca da liberdade Humana e da teoria monetarista, Friedman fica para a História como o “não intervencionista”, tendo sido sempre um defensor acérrimo do capitalismo democrático sob a forma de Livre Mercado maximizado. Milton Friedman, achava que o Estado tinha o dever moral de se intrometer o menos possível na vida económica dos países, reflectindo-se essa mesma moral em efeitos práticos no que concerne à qualidade pura da economia e ao seu desempenho.
Responsável pela mítica frase “Os governos nunca aprendem, só as pessoas é que aprendem”, Friedman deixa-nos um legado rico a todos os níveis, inclusive uma panóplia de séries televisivas disponíveis online que são ainda hoje ponto de auxílio para milhares de estudantes por todo o mundo.
- Para além do não ter sido “pai” de nenhum movimento político e ideológico marcante e actual, Keynes perdeu a batalha da Grande Depressão contra Friedman, pois não a conseguiu prever e evitar enquanto teve oportunidade. Friedman, ao reinterpretar pela primeira vez a teoria Keynesiana, detectou um modo brilhante a partir do qual teria sido possível evitar a Grande Depressão. A resposta está na política monetária através da qual este propõe a injecção de “novo dinheiro” nos bancos que se encontravam a um passo de negar o levantamento de moeda aos seus depositantes. Deste modo, ao verem que o seu dinheiro estava em segurança, as pessoas não o levantariam das suas contas, sossegadas por sinais públicos de tranquilidade expressados diariamente pelas instituições bancárias – simples, Humano, brilhante e um ponto de acordo para enorme parte dos economistas actuais. Com esta jogada, a inflação subiria, é certo, mas poderia mais tarde ser combatida com políticas anti-inflacionárias simples. Por outro lado, o sistema empresarial não cairia por falta de crédito, impedindo assim a desgraça da crise de acontecer (ou pelo menos, de acontecer do modo que os americanos a sentiram na pele).
Assim jogam os mestres do triunfo…