Gosto de futebol. Não gosto é que, como ultimamente tem acontecido, este desporto seja usado para revelar a mediocridade em que a nossa sociedade de valores vai mergulhando.
Apercebi-me desta situação, quando há uns meses, o avançado e capitão dinamarquês, Jon Dahl Tomasson, lançou uma “farpa” na imprensa dinamarquesa, ao dizer que Portugal foi ao Brasil “comprar” Liedson, depois deste ter sido recusado por Dunga, o seleccionador brasileiro. Tomasson disse também que nem na Dinamarca, nem na Escandinávia ocorre esse tipo de situações, “Não fazemos isso na Dinamarca, nem no resto da Escandinávia, comparando com o que acontece nos países do Sul da Europa”. De início apeteceu-me acusar o escandinavo de racismo puro, mas mais tarde senti-me obrigado (tendo a declaração sido tecida com alguma “dor de cotovelo” ou não) a dar-lhe parte da razão. Vivemos num país em que são precisos seis anos de trabalho em território nacional, para que um individuo receba a nacionalidade portuguesa (nada contra!), e num país em que o título de cidadania é brutal e cegamente misturado com o cargo da representatividade. Para alguém representar organismos como a selecção portuguesa de futebol, bastar-lhe-á apenas, que por território luso tenha passado, e ficado a trabalhar, durante seis anos. Acho que a representatividade devia ser considerada após um prazo mais dilatado do que o necessário para que um indivíduo obtenha naturalização portuguesa. Assim, devia ser aumentado esse prazo para um número de anos necessários, recorrendo a uma comissão de conceituados sociólogos, dispostos a investigar o tópico em questão.
É certo que o desporto é um negócio (prova viva disso são as famosas SADs), mas se os clubes/empresas estão para o negócio, para o que estarão as selecções de representatividade nacional?! Arrisco hipótese: Para um falseado jogo de interesses, e então vamos à pressa para a China, arrebanhar meia dúzia de campeões de ténis de mesa… Com isso ganhamos umas medalhas na modalidade e damos corpo ao “espírito olímpico”!
Não questiono o sentimento nacional de homens como Luís Cunha, mais conhecido como Nani, que embora nascido em Cabo Verde, passou a maior parte da vida em Portugal, tendo imigrado para terras lusas durante o seu terceiro ano de escolaridade; não questiono o patriotismo de Bosingwa, nascido em Kinshasa, tendo-se mudado para Seia, no distrito da Guarda, no interior de Portugal, com tenra idade, nem de Petit, nascido em Estrasburgo, mas que ainda jovem veio fazer a sua vida para o nosso país. Mas se estamos a falar de atletas como Deco, Pepe e Liedson, que por mais conceituados tecnicistas, e portugueses de B.I. que sejam, tendo eles visto na selecção portuguesa uma “segunda via” de promoção das suas carreiras (lembro o caso de Liedson, que 4 meses antes de receber a naturalização portuguesa deu uma entrevista à TV Globo em que dizia ao povo brasileiro “só se imaginar a jogar de ‘canarinha’ ao peito”) e que nem casa em Portugal alguns deles detêm, não me consigo convencer do seu sentimento nacional. Bom ou mau, um “grupo selecção” é o melhor que um país tem para oferecer. Pouca diferença restaria entre selecções e clubes, caso cada um "contratasse" os atletas que quisesse, independentemente de algo mais: algo que não pode ser demonstrado por um simples papel carimbado.
Neste panorama nacional, em que tanto pessoas, como cargos, são aceites e requeridos por conveniência de interesses, e não pelo preenchimento dos requisitos que as funções acarretam, é necessário aclamar uma moral identitária.
Ah! E já agora, era bom que esses atletas (e os outros…) soubessem a letra do nosso hino…
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